MPF tenta impedir construção de condomínio em quilombo em Lauro de Feitas

Quilombo tem registro desde 1569 ainda não tem destinação do território aos quilombolas concluída

comunidade Quilombola de Quingoma, uma das mais antigas do Brasil, com registro de atividade desde 1569, está em risco de sofrer apagamento histórico e desaparecimento do espaço político-social.

Ministério Público Federal (MPF) acinou a Justiça para que seja suspensa a construção do “JoanesParque – Bairro Planejado” . Assim, para impedir as obras, edificações e comercialização dos terrenos, o MPF ajuizou uma ação civil pública contra a União, o Estado da Bahia, o município de Lauro de Freitas, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a empresa MAC Empreendimentos.

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O órgão explicou que a ação tem como propósito proteger os direitos fundamentais dos quilombolas e evitar prejuízos aos potenciais compradores de lotes e ao próprio Poder Público.

Além disso, durante as apurações, foi observado que os empreendimentos em curso na área têm causado devastação ambiental do território e a diminuição da vegetação nativa, além de comprometer o modo de ser e viver da comunidade tradicional.

 

Lentidão no processo para os quilombolas

A Comunidade Quilombola de Quingoma recebeu a certificação pela Fundação Cultural Palmares em 2013. Mas, só em 2017 o relatório antropológico foi finalizado, documentação necessária à regularização da área.

Anos depois, ainda não há destinação do território aos quilombolas concluída devido à pendência de delimitação da área e a sua respectiva titulação por parte do Incra.

Ainda de acordo com o MPF, ao menos outras três ações civis públicas já se encontram em curso na Justiça para impedir que empreendimentos sejam construídos na área quilombola. Mesmo assim, o local continua sem a proteção ao território tradicional, sendo o JoanesParque a mais nova ameaça concreta e real, faz alerta o MPF.

“A longa espera, além de marcar a omissão do Poder Público em não cumprir seu dever legal e constitucional, vai aumentando os obstáculos, ano após ano. O território tradicional da comunidade quilombola de Quingoma precisa de medidas protetivas contra essa real, concreta e impactante investida: o empreendimento imobiliário ‘JoanesParque – bairro planejado’”, sustenta o procurador da República Ramiro Rockenbach da Silva, que assina a ação.

Próximos passos  

A ação ajuizada pelo MPF, solicita da União uma avaliação do local, em caso de indenização a ser paga, que os valores sejam retidos, a cada mês, no montante de 10% dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) destinados a Lauro de Freitas (BA), já que o ente municipal licenciou e autorizou as obras e serviços sabendo se tratar de território reivindicado pela Comunidade Quilombola e constante do Relatório Antropológico oficialmente aprovado pelo Incra.

Além disso, o município deve suspender todo e qualquer ato autorizativo, de licenciamento ou de natureza similar que tenha sido emitido para o empreendimento imobiliário. O Estado da Bahia precisa apresentar as poligonais das terras públicas estaduais e/ou concedidas no local.

Está prevista na ação também, pagamento de indenização por dano moral e dano existencial aos quilombolas da Comunidade Quingoma, em montante não inferior a R$ 5 milhões, caso os citados passem pela condenação.

 

Fonte: Bnews