Um dos 100 primeiros réus por atos golpistas é ex-síndico de prédio na Grande SP, coleciona confusões por WhatsApp e ameaçou vizinho de morte após eleição de 2022

Preso por atos golpista, Aécio era síndico em Diadema

Como síndico de um prédio em Diadema, na Grande São Paulo, Aécio Lucio Costa Pereira, um 100 primeiros réus por atos golpistas em 8 de janeiro, coleciona confusões por WhatsApp, xingamento e boletins de ocorrência de moradores contra ele.

Aécio foi funcionário da Sabesp desde 2014. Em 11 de janeiro, foi demitido por justa causa, após a divulgação do vídeo em que aparece invadindo o Congresso e participando dos atos golpistas de 8 de janeiro. Ele era técnico em sistemas de saneamento na companhia. Segundo sua defesa, após a prisão do golpista, a família dele está vivendo de doações.

No vídeo, ele aparece usando uma camiseta com uma estampa pedindo “intervenção militar federal” e diz: “Amigos da Sabesp: quem não acreditou, estamos aqui. Olha onde eu estou: na mesa do presidente. Vai dar certo, não desistam. Saiam às ruas”.

À Justiça, a defesa dele alega que Aécio “é réu primário, sem antecedentes criminais, possui residência fixa, trabalhou há mais de 25 anos na mesma empresa”.

“Aécio é um homem trabalhador, pai de família e honesto, tem esposa e filhos, um de 8 anos de idade e outro de 17 anos, sendo este o único provedor de sua casa”, segue a defesa. Eles também dizem não ser possível identificar Aécio em nenhum ato de depredação ou vandalismo do patrimônio público e afirmam que ele não estava com armas.

Confusões com moradores

Ao menos desde 2017 há registros de discussões entre o ex-síndico e moradores que foram parar na delegacia. Ele foi reeleito por três mandatos e substituído após a prisão em janeiro. Em junho de 2017, uma mulher de 57 anos, ex-conselheira do condomínio, afirmou ter sofrido injúria por parte de Aécio. À polícia, ela contou que o ajudou a se mudar para o prédio e a tornar-se síndico. A ex-conselheira teve o braço segurado por ele, que teria tentado dar tapas em sua boca, mas foi empurrado.

“Afirma que ele sempre que a encontra no condomínio a xinga de ‘bruxa’, ‘louca’, ‘bruxa velha’ e, pelo fato dele estar chegando cada vez mais próximo, isso deixa a declarante com muito medo do que ele possa fazer.”

A mesma vítima registrou furto de celular no ano seguinte. Na ocasião, Aécio teria pego o aparelho dela durante uma discussão e não devolvido até a data do registro.

‘Diretorinha de escola mentirosa’

Mais um boletim de injúria, calúnia, difamação e perturbação da tranquilidade foi feito em fevereiro de 2018, e o caso, em novembro de 2017. Uma professora de então 49 anos procurou a polícia para dizer que era moradora do prédio e o síndico mandava e-mail escrevendo “diretorinha de escola mentirosa”, entre outros xingamentos.

Segundo o boletim de ocorrência, o síndico disse para a professora e outras mulheres que “viu as vítimas indo juntas ao Fórum e que tirou fotos delas”. Ele teria alegado que elas adulteraram a ata do condomínio. Em um dos e-mails, o síndico alegou que “gosta de bater em doentes, não se referindo a quem”, ainda conforme o registro.

Em 2018, outra professora de 50 anos comunicou ameaça e injúria. Em maio daquele ano, por volta das 19h20, a vítima estava dormindo quando o então síndico teria enviado uma mensagem pelo WhatsApp: “Sua fuxiqueira, biscate, crente safada. Você vai ter o que procura! Você não sabe com quem mexeu”, relata no documento.

A mulher, que morava sozinha, ficou nervosa, não conseguiu dormir e chamou um conhecido para ficar com ela.

“O averiguado enviou os xingamentos depois que houve um desentendimento por causa de pombos que existem no prédio. A vítima pediu para o averiguado verificar e ele respondeu dizendo que a culpa era do vizinho da vítima e passou a dizer que as fezes dos pombos era shampoo para a vítima usar, que era para ela anotar a placa do ânus do pombo que fizesse sujeira. Contrariado, o averiguado fica agressivo, inclusive em assembleias do condomínio”, detalhou a professora à polícia.

Fios da caixa de energia

Em um boletim de ocorrência de 8 de novembro de 2022, o morador de um dos apartamentos relata ameaça por divergência política. Depois do segundo turno das eleições, afirmou o morador à polícia, Aécio passou a enviar mensagem por WhatsApp dizendo que, se a vítima aparecesse no local, “seria morta, porque todo comunista merece morrer”.

O mesmo morador, em setembro de 2022, entrou com uma ação de danos morais contra o condomínio e o ex-síndico. Em abril daquele ano, o morador, um idoso, afirmou que tentou religar a energia elétrica do imóvel depois de um corte feito pela empresa, mas não foi possível porque os fios da caixa de força tinham sido retirados. Eram cerca de 15 metros.

O condomínio se defendeu neste mês na ação e alegou que o idoso é proprietário do imóvel há 20 anos e considerado morador “antissocial”. Ao g1, o advogado do condomínio, Cláudio Pereira, afirmou que, com relação ao morador da situação dos fios elétricos, a ligação corria o risco de pegar fogo por ser clandestina e realmente foram tirados os fios.

Sobre as outros casos citados à polícia pelos moradores, a defesa do empreendimento não comentou, mas citou que são cerca de 80 unidades e algumas situações foram registradas com moradores específicos. A defesa de Aécio não foi localizada até a última atualização desta reportagem.

Fonte: G1