O arquétipo do Síndico Profissional do futuro

O arquétipo do Síndico Profissional do futuro

A gestão condominial tradicional encontra sua base de sustentação em quatro pilares fundamentais, assim reconhecidos como a concentração, a centralização, o controle e a padronização.

Este modelo, em voga há décadas, uma vez confrontado com as necessidades atuais dos condomínios, se manifesta obsoleto e defasado, isso porque a contemporaneidade, o advento da tecnologia avançada e o novo perfil dos diversos stakeholders passou a exigir uma forma de gestão ampliada, compartilhada, linear, conectada e colaborativa.

A nova administração de condomínios, conhecida como gestão 4.0, refere-se à 4ª Revolução Industrial, na medida em que representa uma grande transformação, analogamente comparável à proporcionada, em séculos anteriores,  pela descoberta do motor a vapor, pelo advento das máquinas industriais, da produção em série e do começo da informatização.  Neste mercado incipiente, o síndico profissional precisa se distanciar dos conceitos antigos de gestão e fazer uso das competências e habilidades de todos os colaboradores que o cercam, a favor dos mais legítimos anseios da coletividade condominial.

Conquanto persistam existindo modelos de gestão resistentes e refratários aos sistemas contemporâneos, que seguem enaltecendo a centralização de poder, concebida como a melhor forma de gerenciamento de bens, recursos financeiros e pessoas, os modais  inovadores se impõe cada vez mais, num verdadeiro tsunami disruptivo, cujas ondas não costumam poupar nenhuma empresa e, por lógico e imanente consectário, nenhum condomínio.

Ao certo, muitos gestores e operadores que atuam no segmento condominial da atualidade desenvolveram suas capacidades e competências em ambientes onde a centralização e o poder de decisão eram o único modelo conhecido e apto a gerir equipes e estruturas condominiais.

Estes gestores, em verdade, precisam se dissociar dos modelos concentradores de administração, adotando algumas práticas como valorizar as competências e habilidades dos colaboradores, delegar tarefas de relevo, supervisionar fazendo uso de ferramentas tecnológicas, empreender escuta ativa, dar instruções claras e precisas, desenvolver e aplicar a cordialidade e empatia nas relações interpessoais.

Assim agindo, o síndico do futuro se aproxima dos modais comportamentais próprios das novas gerações, com isso favorecendo uma gestão democrática, colaborativa e humanizada,  embasada na delegação de poder e autoridade, valorizando novas ideias e reforçando o engajamento das equipes na busca de resultados coletivos e individuais.

Inegável depreender que os condomínios ingressaram na era da 4ª Revolução Industrial onde os principais focos deixaram de ser os processos e as rotinas administrativas, para se amoldar às  pessoas, à massa condominial e o meio ambiente.

Para atuar com propriedade e eficiência neste novo ambiente, os síndicos do futuro precisam conhecer e desenvolver novas competências e habilidades. Dentre estas incipientes soft e hard skills, podem ser enunciadas a capacidade de saber lidar com a diversidade, compreendendo as diferenças e potenciais existentes, as culturas, as origens, as orientações comportamentais e as habilidades interpessoais.

Adicione-se a agilidade de compreensão e de aprendizagem, caracterizada pela habilidade de se atualizar de forma célere, aferindo e mensurando vivências e experiências com vistas à obtenção de soluções aplicáveis ao presente e ao futuro, de forma adequada e efetiva.

Elementos como inteligência emocional e trato nas relações interpessoais representam a capacidade de se comunicar com públicos diferenciados, conhecendo e sabendo lidar com seus próprios componentes emocionais, não olvidando a expectativa de resultados daquele que postula a atenção do gestor.

Nesse contexto, o processo decisório impõe ser realizado com máxima celeridade. Isso porque a expectativa da massa condominial é a de que o síndico conheça o condomínio, em suas nuances e realidades, o que lhe permite, em tese, tomar decisões complexas de forma racional, ainda que em meio a mudanças ou cenários demarcados por imprevisibilidade ou incerteza.

Deve o síndico futuro conciliar a geração de resultados com a formação de pessoas, mantendo constante aumento de desempenho, compreendendo as razões que mantem as equipes engajadas e comprometidas com os objetivos esperados, alinhados com posturas voltadas para a proatividade e para a contribuição criativa.

No campo das habilidades pessoais deve o síndico buscar flexibilidade e compreensão de seus limites, sem desprezar possíveis oportunidades de autodesenvolvimento; cabe aqui o emprego de técnicas de comunicação não violenta, um processo conhecido pela capacidade de inspirar ação compassiva e solidária, abrindo caminhos para inovações em equipe.

Na esfera da gestão de conflitos, espera-se do síndico 4.0 que este anteveja os desafios, como demandas de aprimoramento e de aprendizado, auxiliando para maior envolvimento das equipes e compreendendo que a responsabilidade do gestor ocupa papel fundamental.

Na seara da inovação, o síndico do futuro deve estimular as habilidades de todos os colaboradores, com isso criando um ambiente propício para o advento de novas ideias, geradoras de soluções criativas.

Ultimando, mas sem a pretensão de exaurir o tema, espera-se dos novos síndicos um forte compromisso com o desenvolvimento destas novas habilidades e competências, além de estarem preparados para mudanças em relação a cultura, valores e missão das entidades condominiais do futuro, os denominados condomínios 4.0, uma vez que, doravante, o grau de exigência dos destinatários do processo de gestão, dotados de acesso à mais alta gama de informações, tende a ser mais elevado e acentuado.

Vander Andrade: Pró-reitor de Administração e Planejamento do Centro Universitário Fundacao Santo André. Advogado Condominialista. Mestre e Doutor em Direito pela PUC-SP. Presidente da Associação Nacional de Sindicos e Gestores Condominiais. Autor da obra: “Manual do Síndico Profissional” pela editora Nelpa de São Paulo.

 

Fonte: ANACON