Mais de nove meses após a operação Fortis Status, realizada em outubro de 2024 na fazenda Mutamba, em Marabá (PA), permanecem pendentes respostas cruciais sobre a morte de duas pessoas sem-terra e relatos de violência policial. Uma investigação da Agência Pública revela evidências e omissões envolvendo autoridades estaduais e movimentos sociais.
Duas vidas perdidas, muitos questionamentos
Na ação da Polícia Civil do Pará, foram identificados os posseiros Adão Rodrigues de Souza (53 anos) e Edson Pereira da Silva (43 anos), ambos sem antecedentes criminais, mortos em um confronto que, segundo a corporação, teria sido provocado por disparos recebidos pelos agentes. Entretanto, a perícia oficial, que o Ministério Público do Pará (MPPA) solicitou há seis meses, ainda não foi entregue – fazendo com que laudos de armas e resíduos de disparo permaneçam retidos.
“Farsa” ou tragédia?
Movimentos como MST e CPT, além de outras cinco organizações, criticam a operação, chamando-a de encenação e comparando-a ao massacre de Pau D’Arco (PA). Segundo as entidades, não havia necessidade de repressão armada: todos os detidos estavam sem mandado de prisão e poderiam ter sido capturados sem violência .
Disputa violenta e uso de força
Antes da operação propriamente dita, agentes da Delegacia de Conflitos Agrários (DECA) teriam sido atingidos por tiros ao realizar reconhecimento no local três dias antes, em 8 de outubro. Esse episódio – citado durante as investigações – teria sido usado para justificar o uso exagerado da força no mês seguinte .
Território alvo de grilagem e despejos
A fazenda Mutamba pertence à família Mutran, investigada por grilagem e apontada na “Lista Suja” do trabalho escravo. Apesar disso, a DECA não investigou possíveis atos ilegais contra os proprietários. Mais de 200 famílias sem-terra residiam na área, que agora enfrenta ação judicial de despejo, determinada para ocorrer até 6 de outubro de 2025.
Quadro de impunidade
O Ministério Público Federal (MPF), a corregedoria da polícia e a pasta de mediação agrária do governo federal continuam acompanhando o caso, mas ainda não apresentaram conclusões. A juíza Alessandra Rocha da Silva Souza solicitou à DECA a apresentação de provas e depoimentos que possam esclarecer o enfrentamento. Até o momento, porém, não há indiciamentos oficiais.







