A quase uma semana do primeiro turno as eleições municipais de 2024 indicam a ascensão de três resultantes a serem ainda confirmadas pelas urnas – a julgar pelas pesquisas de intenções de votos nas capitais e maiores cidades.
A primeira resultante é o evidente declínio do peso da polarização política como razão predominante de voto. A pantomina da disputa eleitoral paulistana, até agora, é uma exceção.
O voto ideológico é superado pelo voto por entregas de serviços e boa gestão. Impensável até a bem pouco tempo. Os eleitores parecem preferir um bom síndico das suas cidades, em vez de escolher algum profeta do apocalipse.
Não é pouca coisa. Resulta no declínio da extrema direita e da extrema esquerda. Do ponto de vista da política eleitoral resulta no renascer da teoria da centralidade de Anthony Downs: a política eleitoral converge para o centro e para a moderação.
(Aliás, também nos Estados Unidos as avaliações de pesquisas apontam para opções de mais moderação e centralidade. Opção que foi acentuada pela entrada de Kamala Harris na disputa presidencial).
Este “caminho do centro” alimenta o prenúncio de uma nova síntese política no Brasil. São os impulsos da uma cosmovisão liberal, como venho registrando aqui neste espaço. A CONFERIR.
A segunda resultante é a diminuição da fragmentação partidária. Tanto porque a Cláusula de Barreira segue crescendo até 2030, quanto porque a preferência por moderação e entrega direciona a bússola política para o centro – com viés de centro direita. A CONFERIR. A terceira resultante é a modificação do tabuleiro de alianças políticas – como sempre acontece em períodos pós-eleitorais.
Novo tabuleiro que vai valer principalmente para a sucessão na Câmara Federal, mas também, em menor escala, para a sucessão no Senado da República. Vai valer, ainda, para a calibragem das expectativas políticas e econômicas para 2026 e depois. Poderemos dizer em novembro que “Habemus” barômetro político para 2026. A CONFERIR.
É este novo barômetro político que, reacomodando forças e lideranças políticas, poderá levar o presidente Lula a avaliar a necessidade de reforma e recomposição ministerial. Seja para espelhar a mediana partidária na Câmara Federal, seja para (ouvindo a voz das urnas) representar uma nova Frente Ampla.
Um potencial declínio da polarização vai requerer a formação de novo consenso no país. Criando, como corolário, o imperativo de novas reformas políticas.
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Antônio Carlos de Medeiros: Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.
Fonte: Metrópoles