As câmeras de segurança do Condomínio Brasília, no bairro Taboão, de São Bernardo, flagraram o momento em que o síndico Amilton Aparecido Jimenez, 65 anos, enfia a mão nas calças e aperta as nádegas de uma faxineira de 53 anos. Sem reação na ocasião, por medo de perder a fonte de renda, a vítima (que tem a identidade protegida pelo Diário), conseguiu acesso às gravações para embasar um processo judicial somente em novembro deste ano, apesar de o episódio ter acontecido em de 19 outubro de 2023.
Diante da revolta dos moradores e da pressão gerada pela apuração aberta pelo 7º Distrito Policial de São Bernardo, Jimenez renunciou ao cargo de síndico no dia 12 de dezembro, mas, segundo relatos de condôminos, ele, que é morador do prédio, continua atuante e inclusive realiza despachos do dia a dia e pagamentos bancários do condomínio.
Os moradores ouvidos pelo Diário apontaram que esta não foi a primeira vez em que uma funcionária foi assediada nos 21 anos de Jimenez no cargo. No ano passado, uma outra profissional de limpeza, de 37 anos, entrou com ação contra o síndico e obteve um afastamento médico da função após entrar em quadro de depressão. Hoje, ela é uma das testemunhas do caso da nova vítima.
“Aqui é um dos poucos prédios com contratação direta, sem terceirização. E é sempre o mesmo perfil: mulheres líderes de casa, mães solteiras. E aí elas não podem ficar sem trabalhar, têm medo. Eu lembro do dia em que ela (a vítima), que todos no prédio conhecem pela educação e carisma, sentou chorando para conversar com a gente. Ela ainda duvidava do que ele foi capaz. Ficou se perguntando se aquilo era normal, se ele a puniria caso ela se defendesse e como sustentaria os filhos se perdesse o emprego e os bicos de limpeza que faz por aqui”, conta um dos moradores, que pediu anonimato.
AMEAÇAS
Após o caso vir à tona, a denunciante recebeu mensagens, às quais o Diário teve acesso, em tom de ameaça vindas da esposa do síndico. Nos textos, a mulher, identificada como Claudete Figueiredo, alegou que o marido “brinca, mas nunca faltou com o respeito”. Segundo ela, levar o episódio à polícia era considerado uma “sujeira”. “Você tem família e o porquê quer destruir a minha? (…) Se algo acontecer com ele, seja porque é cardiopata ou porque tem problemas de depressão ou ansiedade, você também será culpada e não haverá perdão”, escreveu. A vítima também alega que sofreu retaliações diversas no trabalho, além da tentativa de silenciamento – ela continua no emprego.
DESVIO
Jimenez também é investigado pelo desvio de R$ 28 mil em taxas condominiais. Um dos prestadores de serviços do residencial entregou a um ex-funcionário do prédio cópias dos extratos bancários e afirmou em juízo que o síndico pedia repasses superfaturados pelos serviços. “Ele não apresenta recibo ou nota na tramitação”, afirmou o advogado de acusação, Eduardo Santos.
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O inquérito tanto sobre assédio como sobre o desvio está em fase de oitiva de testemunhas. Porém, segundo o advogado, a situação está longe de se resolver. “Ela hoje sofre com crises de ansiedade. É um absurdo ver alguém colocar a mão assim em outra que não deu permissão, em caráter tão agressivo e ameaçador. Se ele alega uma brincadeira com imagens para provar, imagine se ela não tivesse conseguido o vídeo”, finalizou Santos.
Fonte: Diário do Grande ABC