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Síndico não aceita perder cargo e ameaça “bater na cara” de vizinha

Uma assembleia de condomínio em Vicente Pires acabou na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher da Asa Sul (Deam 1), na última quinta-feira (1º/8), após moradores votarem a favor da destituição do síndico e do subsíndico do residencial. Testemunhas relataram que a dupla gestora partiu para cima de vizinhos por não aceitar o resultado do pleito.

A reunião havia sido convocada para votação da retirada de ambos do cargo, sob justificativa de que a gestão faltava com a transparência na prestação de contas e em decorrência de dívidas abertas em nome do Condomínio Imperial, na Rua 3 da região administrativa. Morador do residencial, o empresário Alyson Januário, 45 anos, disse que o então síndico, o biomédico Julien Barbosa, 54, teria até arrancado avisos sobre a assembleia de elevadores do prédio.

Alyson contou, ainda, que moradores chegaram a ser coagidos a não assinar o abaixo-assinado para convocação da assembleia e que quem pedia documentos da prestação de contas do residencial era desrespeitado. “Ele [Julien] não deixa os participantes falarem durante a reunião. Na última, afirmou que quem quisesse a prestação de contas deveria entrar na Justiça”, detalhou o empresário.

Na assembleia de quinta-feira (1º/8), os condôminos votaram a favor da destituição do síndico e sugeriram o nome do vendedor Derneval Silva, 32, para assumir o cargo temporariamente. Irritado, Julien teria partido para cima de Edslanny Barreto, 34, esposa do indicado, e dito: “Era isso que você queria mesmo”.

A vítima, então, respondeu: “Nós queríamos a prestação de contas, coisa que você nunca fez”, relatou ela à polícia, segundo boletim de ocorrência registrado na Deam.

Outra testemunha afirmou que, com a mão levantada como se fosse agredir Edslanny, Julien ameaçou: “Vou bater na sua cara, sua piranha, vagabunda, analfabeta. Depois, vou te pegar”. Ao perceber que o debate escalava, Alyson acionou policiais militares que estavam na área e acompanharam a confusão.

Procurado pelo Metrópoles, Julien confirmou que ocorreram xingamentos durante a assembleia, mas negou a existência de ameaças e agressões, além de rechaçar a necessidade de levar o caso à delegacia. “Assembleias são acaloradas mesmo”, justificou.

Julien comentou que, apesar de os moradores poderem convocar uma reunião, as decisões votadas não são necessariamente aceitas. Inclusive, após ser destituído do cargo de síndico, o biomédico convocou uma nova assembleia, na segunda-feira (5/8), a fim de anular a definição anterior, e conseguiu.

Contudo, pelo fato de não respeitar o prazo mínimo de 15 dias previsto no estatuto condominial, a reunião mais recente acabou suspensa por decisão judicial, da 1ª Vara Cível de Águas Claras. Agora, Julien pretende marcar um novo encontro, dentro do prazo estipulado, para tentar tornar inválida, mais uma vez, a destituição. “Sou muito querido lá no prédio”, completou.

Contas atrasadas

Entre os pontos apresentados na assembleia de quinta-feira (1º/8) para justificar a destituição do gestor, estavam a falta de transparência na prestação de contas; administração financeira inapropriada; falta de fundos na reserva do residencial; deterioração de áreas comuns; descumprimento das leis e regulamentos internos; bem como tomada de decisões sem consulta aos moradores.

Moradores ainda relatam que o condomínio está endividado e com contas atrasadas. Alyson acrescentou que o residencial acumula cobranças não pagas do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), referentes aos anos de 2021 a 2023, o que totaliza R$ 36.650 em dívida ativa.

Os condôminos chegaram a identificar três contas de energia em aberto. Para Alyson, Julien só paga parte dos tributos quando percebe haver chances de corte de luz, o que implica juros e multas por atraso. “Água, luz, IPTU – cujo prazo de desconto ele perdeu… Não existe nota fiscal de coisa alguma, e ele [o síndico destituído] não presta contas há muito tempo”, criticou o empresário.

O então gestor alegou que ter contas atrasadas é algo comum em um espaço com gastos altos, como um condomínio. “Nem sempre temos caixa para pagar tudo, o que é algo normal. Nenhum serviço já foi cortado, e sempre pagamos tudo. O IPTU só estava atrasado em um dos dois prédios [do residencial], e eu parcelei [o tributo]; o do outro edifício está quitado. Como gestor, tenho de ter um jogo de cintura para fazer tudo funcionar”, completou.

Sem hidrômetro e sem fundo de reserva

Moradores também perceberam que, no aplicativo do condomínio, onde é possível conferir os gastos mensais dos prédios e as contas a serem pagas, não havia registro dos boletos de água quitados. Após conferência dos condôminos, eles verificaram que o hidrômetro não registrava o consumo de água, acionaram a Companhia Ambiental de Saneamento do Distrito Federal (Caesb) e pediram a substituição do equipamento. Até o momento, porém, os vizinhos não sabem o que teria sido feito com os valores pagos pelos condôminos por um gasto hídrico que não era registrado.

Outro ponto levantado por Alyson e outros moradores se trata do fundo de reserva do residencial. Desde setembro de 2020, os moradores pagam 10% mensalmente para depósito em uma espécie de poupança para cobertura de gastos imprevistos, como consertos de emergência, e execução de melhorias nos prédios.

Para usar o valor guardado, no entanto, é necessária uma votação em assembleia. “Deveríamos ter acumulados cerca de R$ 250 mil. Porém, nunca foi feita a demonstração desse valor com extrato bancário”, destacou Alyson. O empresário acrescentou que, agora, os moradores planejam contratar uma empresa de síndicos profissionais para evitar novos transtornos.

 

Fonte: Metrópoles

Luiz Davi

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