O envio de seres humanos a Marte nas próximas décadas depende de um conhecimento aprofundado sobre as condições enfrentadas no planeta vermelho. Um novo projeto, batizado de M-MATISSE, surge como um dos candidatos à próxima missão de classe média da Agência Espacial Europeia (ESA) e pode ser essencial nesse processo preparatório.
Com proposta apresentada no encontro anual da Royal Astronomical Society, a missão busca entender como o clima espacial afeta Marte em diferentes camadas de sua atmosfera. Se aprovada, será a primeira iniciativa dedicada exclusivamente a estudar o ambiente espacial marciano, com potencial direto para influenciar futuras missões tripuladas e robóticas ao planeta.
Investigação completa do clima espacial de Marte
A missão M-MATISSE, sigla para Mars Magnetosphere ATmosphere Ionosphere and Space-weather SciencE, propõe o envio de duas espaçonaves robóticas idênticas, equipadas com os mesmos instrumentos, que operariam de forma simultânea em órbitas distintas ao redor de Marte.
O objetivo é analisar as interações entre o vento solar e diferentes camadas da atmosfera marciana, incluindo a magnetosfera, ionosfera e termosfera, além da atmosfera inferior e da radiação acumulada na superfície.
A espaçonave Henri passaria a maior parte do tempo dentro do sistema de plasma de Marte, enquanto Marguerite operaria em regiões menos exploradas, como o vento solar e a cauda distante do planeta.
Com isso, os pesquisadores esperam obter uma caracterização global da dinâmica do sistema marciano e entender como a energia solar impacta os processos atmosféricos e de superfície.
Um modelo da espaçonave M-MATISSE (Imagem: Dr Beatriz Sánchez-Cano/European Space Agency)
Prevenção de riscos e apoio à exploração humana
De acordo com a pesquisadora Beatriz Sánchez-Cano, da Universidade de Leicester, a proposta permitirá identificar como o planeta dissipa a energia recebida do vento solar e como isso afeta seus processos superficiais. “Compreender o comportamento do sistema marciano e a cadeia de processos que controlam o clima espacial é essencial para a exploração”, afirma.
Segundo ela, a capacidade de prever eventos climáticos espaciais em Marte, com base em dados precisos sobre radiação e partículas solares, é crucial para evitar situações perigosas tanto para naves quanto para seres humanos. A experiência adquirida com o monitoramento do clima espacial terrestre serve de base para essa estratégia.
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Participação britânica e próximos passos
O Reino Unido tem papel central na coordenação do projeto, liderando o desenvolvimento do conjunto de instrumentos para detecção de partículas — que promete fornecer as observações mais precisas já feitas em Marte sobre íons, elétrons e partículas neutras. O país também será responsável pelo centro científico da missão, que coordenará a coleta e o uso dos dados em conjunto com a ESA.
M-MATISSE é uma das três propostas atualmente em avaliação pela agência europeia. A decisão final está prevista para meados de 2026, quando uma das candidatas será escolhida como a próxima missão de classe média da ESA. Missões anteriores dessa categoria incluem a Solar Orbiter e a Euclid, já em operação, além da Plato e Ariel, em fase de construção.
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