Gestão

Excesso de confiança e falta de investimento em segurança influenciam crimes em condomínios de alto padrão

Em alta, os furtos e roubos praticados contra condomínios verticais e horizontais de alto padrão vêm ganhando força desde o início de 2010. Normalmente praticados com o auxílio de pessoas que possuem acesso a imóveis destes complexos, a prática começou a ser observada em Goiás com maior incidência a partir de 2015.

Neste mesmo ano, quatro casas do condomínio Housing Flamboyant foram furtadas. O crime ocorreu no último final de semana de outubro, ocasião em que os criminosos aproveitaram a ausência das vítimas. No ano seguinte, em setembro de 2016, foi a vez do Alphaville Flamboyant Araguaia ter uma casa furtada e outra roubada.

O condomínio, onde reside o delegado e ex-deputado federal de Goiás, João Campos, também já havia sido invadido em 2014. Na época, o próprio ex-parlamentar teve objetos furtados por criminosos depois de ter a residência arrombada.

A atividade criminosa, no entanto, se profissionalizou e ganhou aliados fortes, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Em abril deste ano, cinco pessoas, sendo dois integrantes da facção paulista, foram presos pela Polícia Militar de Goiás (PM-GO) por furtar quatro apartamentos de luxo na capital.

Dois meses antes, em fevereiro, um morador do Residencial Portal do Sol Mendanha, em Goiânia, teve um prejuízo de R$ 20 mil depois de ter pertences furtados por criminosos que burlaram a segurança do complexo de casas. Mais recentemente, em meados de junho, três mansões do Residencial Aldeia do Vale foram furtadas, cujo valor do prejuízo chega a R$ 150 mil.

“A maioria esmagadora desses furtos à residência que envolvem escalada, arrombamento e chave falsa, em regra, são qualificados. Hoje em dia, esses condomínios de alto padrão já tem uma rede de segurança ampla e desenvolvida. Os recursos tecnológicos dificultam, em demasia, que a organização criminosa se una ou faça cooptação de membros para que eles empreendam o crime”, explicou o delegado Anderson Pimentel.

O investigador afirma que a incidência entre esse tipo de crime é maior entre criminosos de ocasião e por ocasião. Ou seja, pessoas que não pertencem a alguma organização criminosa, mas que possuem contato com funcionários, parentes e conhecidos de pessoas de alto poder aquisitivo, que possuem morada em complexos de alto padrão.

Usando da confiança e do acesso devido ao cargo, os criminosos facilitam a entrada e passam informações cruciais para um furto ou roubo bem sucedido, como a rotina e horários em que as vítimas não estão em casa. Há casos, no entanto, em que os criminosos são ousados, como os integrantes do PCC presos em Goiânia, que se passavam descaradamente por moradores a fim de conseguir entrar nos condomínios pela portaria.

“Por mais que tenha todo um sistema de segurança, até em condomínios de apartamentos, são observados vacilos e o abuso de confiança, que é uma qualificadora também desse tipo de crime. Tem moradores de apartamentos que não passam nem a chave na porta porque acreditam que o sistema de segurança será suficiente para guardar seu matrimônio”, concluiu.

Bens atraem criminosos

O consultor de segurança, Franceildo dos Santos, explica que a falta de dinheiro em espécie no mercado fez com que criminosos migrassem para práticas mais ousadas, como o furto em residências de luxo, lojas e até shoppings em busca de joias e objetos de alto valor comercial. O especialista diz ainda que a crise financeira que assola não só o mercado brasileiro, mas global, influenciou para a queda na segurança de complexos de moradia.

“É necessário compensar essa diminuição investindo em tecnologia, que é uma ferramenta auxiliar, para ter maior controle desta entrada. Isso reforça o protocolo de entrada, controle de acesso das pessoas. Em boa parte desses furtos, [o criminosos] adentrou de alguma maneira, seja como prestador de serviço ou visitante”, explicou.

Franceildo diz ainda que é necessário que os próprios moradores também invistam no reforço da segurança, implantando alarmes e demais meios de monitoramento, como câmeras internas e externas. O fato, além de prevenir e dificultar a atuação criminosa, também pode ajudar a identificar possíveis autores.

“O condômino faz parte desse processo, ele não pode se ausentar. As pessoas acham que o fato de morar em condomínio, deixa a segurança 100% na mão do complexo. Porém, o condomínio é responsável pela segurança da área comum, o que acontece na casa do condômino é de responsabilidade dele”, contou.

Construções influenciam

O membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (Cau-GO), David Finotti, explica que o fato de condomínios  horizontais serem, normalmente, construídos em locais periurbanos, influencia na incidência de crimes praticados no local.  As construções gigantescas, que se assemelham a pequenas cidades, também são outro fator que ajuda na atuação de criminosos.

Os complexos extensos, inclusive, são alvo constante de debates sobre o direito da cidade entre advogados e urbanistas. O fato de serem afastados prejudica o equipamento público, como o policiamento e a atuação de bombeiros.

“Esses condomínios são praticamente uma cidade dentro de uma cidade, uma questão quase feudal. Isso faz com que eles fiquem muito dependentes de empresas de segurança, onde entram questões de custo, capacidade e infraestrutura”, disse David.

 

Luiz Davi

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